PESSOAS E PERSONAGENS

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       Março foi um mês de encontros. As primeiras possibilidades de personagens surgiram e começamos a dar carne e osso às nossas ideias. A sequência de cenas que apresentamos revela um pequeno mosaico de possibilidades narrativas que, se desenvolvidas, farão parte do nosso futuro espetáculo. Um carteiro; um menino; uma doméstica; um pai; uma dona de casa e um pedreiro surgem e querem contar suas histórias. Que relação existirá entre eles e o que suas vidas fictícias revelam sobre nossas realidades ainda não sabemos, não chegamos no território das certezas.
         “Negro, Macumba e Futebol”, livro que reúne três estudos publicados por Anatol Rosenfeld no anuário alemão “Staden Jahrbuch” na década de 50, foi base para discussões sobre as religiões africanas no Brasil; o negro; o futebol e a formação do imaginário nacional. Assistimos também ao filme espanhol “Noviembre”, dirigido por Achero Mañas; ao norte americano “Para Mulheres Negras”, dirigido por Tyler Perry e baseado na peça homônima de 1975, escrita por Ntozake Shange e ao inglês/francês “London River”, dirigido por Rachid Bouchareb e protagonizado por Sotigui Kouyaté e Brenda Blethyn. Estes filmes proporcionaram discussões em torno dos limites entre a ética e a estética na arte; a capacidade humana de transcender as aparentes diferenças e levantaram questões sobre o que há de universal e particular na experiência de vida de mulheres negras nos E. U. A.
       “O que é digno de ser celebrado?”. Neste momento de reapropriação histórica que vivemos, nos fazemos esta pergunta e rumamos para as cenas que poderão nos dar algumas respostas. Como você já sabe, o homem comum é a nossa busca e ele deve nascer daqui a algumas semanas!! O roteiro que desenvolvemos com a casadalapa, para o nosso “Enquadrinho”, simboliza este nascimento. O surgimento deste homem, seus primeiros anos de vida e seus ritos de passagem. Ferreirinha, fundador do prédio que hoje abriga o “Condomínio Cultural Mundo Novo”; uma parteira; um médico; um(a) professor(a), um(a) aluno(a) são algumas das personagens que contarão suas vidas e registrarão suas existências.
           Neste período de ensaios, aulas e conversas também tivemos encontros com pessoas que já são importantes dentro dessa caminhada coletiva. Josy Rouse, atriz e pesquisadora licenciada em Teatro pela UNESP, chega junto ao Coletivo Negro pra desenvolver pesquisa teórica que avança nas questões sobre a presença do negro no teatro brasileiro. Além disso, já no fim do mês, assistimos ao espetáculo “O Líquido Tátil”, do Grupo Espanca!, de Belo Horizonte, e tivemos um encontro “massa” com a atriz, dramaturga e diretora Grace Passô, que é a nossa mais nova parceira e com quem a gente espera trilhar os mais criativos caminhos dentro deste projeto.
          Em busca de reflexões, finalizamos o mês com a leitura do texto “O presente como espaço”, de Milton Santos. Assim como o nosso mestre geógrafo, seguimos atentos às relações estruturais do mundo em que vivemos para, quem sabe, produzir uma arte que em AÇÃO, continue “Pensando o Espaço do Homem”.
                             
                                        Raphael Garcia/ Coletivo Negro